Num país onde a cultura do empreendedorismo não é desenvolvida e
os empreendedores que surgem precisam enfrentar diversas barreiras para
levar adiante os seus negócios, as incubadoras são muito bem-vindas. Em Parintins, sob a égide da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), surgiu a Amazonas Indígena Criativa (Amic),
há pouco mais de dois anos. "A Amic foi idealizada pela professora
Talita Reis, do curso de administração, mas ela precisou viajar para
fazer seu doutorado e me convidou para ficar coordenando a incubadora",
explicou a paulista Sandra Helena da Silva, professora do curso de
Serviço Social.
A Amic é financiada pela Secretaria da Economia da
Cultura, do Ministério da Cultura (Minc), e funciona no antigo campus
da Ufam de Parintins. "Somos uma organização de aprendizagem que tem o
intuito de atender iniciativas empreendedoras no Baixo Amazonas. Nosso
diferencial é que valorizamos a cultura local, esse é um dos princípios
da Economia Criativa, e aqui focamos, principalmente, na cultura
indígena", disse.
Atualmente
a Amic reúne cinco incubados nos segmentos do artesanato, biojóias,
arte tradicional indígena sateré mawé e turismo de base comunitária.
"Nesse último caso atuamos na comunidade Nazaré, localizada na região de
Zé Açú", completou a professora. "Entre as regras que adotamos, uma
delas diz que toda a matéria prima utilizada deve ser biodegradável, ou
seja, retirada da natureza de forma sustentável, já os produtos precisam
identificar a região. Um exemplo: se fizer uma boneca, ela precisa ser
reconhecida como sendo da Amazônia".
Além dos limites da ilha
Nos
próximos meses Sandra Helena tem visitas agendadas a vários municípios
do Baixo Amazonas (Barreirinha, Maués, Urucará, Nhamundá, São Sebastião
do Uatumã, Boa Vista do Ramos), em busca de novos interessados em fazer
parte da Amic. "Em princípio, atuamos no assessoramento na gestão dos
negócios. Esse é o principal gargalo encontrado entre os incubados: não
saber administrar os próprios negócios. Então ensinamos todo o ba-a-bá,
desde o saber ganhar ao saber gastar o dinheiro. O que tenho notado
nesse um ano à frente da incubadora é um desenvolvimento muito grande
dos incubados em saber alavancar seus negócios", comemorou.
Em
novembro passado os incubados participaram de uma feira no Campus da
Ufam, em Manaus, durante o IV Encontro Brasileiro de Pesquisa em
Cultura. "Foi a primeira vez que os artesãos saíram da ilha de Parintins
e mostraram seus produtos para o público manauara. A ideia é participar
cada vez mais desse tipo de feira, não só em Manaus, para não ficarem
restritos somente aos limites da ilha. Hoje, além de venderem seus
produtos para os turistas que visitam Parintins, os incubados atendem
aos pedidos feitos por lojas de Manaus", falou.
Como
uma visão mais moderna, a incubadora visa a divulgação em redes sociais
e no ambrinete virtual. "Atualmente só temos a fanpage no Facebook, mas
está sendo criado o site da Amic e cada um dos incubados também terá
seu próprio site e marca da empresa, criados por nós. Geralmente um
incubado permanece numa incubadora um, dois anos, até aprender a
'caminhar com as próprias pernas', depois vai 'voar sozinho', mas aí
novos incubados são aceitos. Mas sempre estaremos abertos a novos
interessados", avisou.
Linha de produção familiar
Há
26 anos Gilberto Duque é artesão em Parintins. Quando casou com Kátia
Brito, há 24 anos, seus negócios alavancaram. "Hoje nossos quatro
filhos, mais a afilhada, já ajudam e a nossa produção ficou maior",
comentou Gilberto. Gilberto e Kátia são os proprietários da Kbças
Gniais, especializados em produzir pequenos artesanatos que enfeitam
canetas, lápis, imãs de geladeira, chaveiros, porta canetas feitos em
cuias, colares e tiaras com sementes, sem esquecer dos boizinhos
Garantido e Caprichoso e animais da fauna amazônica.
O
casal integra a Amic desde sua fundação. "Tem valido a pena ser da
incubadora. Melhoramos o nosso lado profissional. Foi com a ajuda deles
que passamos a emitir nota fiscal. Temos uma loja no aeroporto Júlio
Belém, em Parintins, e tínhamos dificuldade em vender quando precisava
da nota. Hoje não temos mais esse problema", comemorou.
O
interessante do casal é o material utilizado para confeccionar várias
de suas peças. "Antes fazíamos com durepoxi, depois testamos pó de serra
e biscuit, mas o que usamos hoje é a borra de café. Fizemos testes
durante uns três meses, no fogo, no gelo, e hoje dominamos a técnica. A
borra endurece em poucos minutos, tempo suficiente para a Kátia moldar
as peças", riu. Para a feira acontecida em Manaus, durante o Encontro
Brasileiro de Pesquisa em Cultura, o casal trouxe 4.000 peças. "Vendemos
todas para um lojista e ele encomendou mais 2.000 peças, que entregamos
em 20 dias. Aqui em casa somos uma linha de produção. Cada um faz uma
parte do trabalho. Somos um empreendimento familiar", ensinou.
O que são incubadoras?
Segundo
o Sebrae, as incubadoras de empresas são instituições que auxiliam
micro e pequenas empresas nascentes ou que estejam em operação, que
tenham como principal característica a oferta de produtos e serviços no
mercado com significativo grau de inovação. Elas oferecem suporte
técnico, gerencial e formação complementar ao empreendedor e facilitam o
processo de inovação e acesso a novas tecnologias nos pequenos
negócios.
As empresas que buscam
as incubadoras, além de receberem suporte gerencial, administrativo e
mercadológico, recebem apoio técnico para o desenvolvimento do seu
produto. Com isso, o empreendimento pode ser acompanhado desde a fase de
planejamento até a consolidação de suas atividades com a consultoria de
especialistas.
Geralmente
ofertam ainda espaço físico especialmente construído ou adaptado para
alojar temporariamente os empreendedores - chamados neste momento de
empresas incubadas - e promovem acesso a serviços que as empresas
dificilmente encontrariam agindo sozinhas e sem orientação adequada no
mercado.
Além deste
espaço individualizado para a instalação de escritórios ou laboratórios,
as incubadoras oferecem sala de reunião, auditórios, área para
demonstração dos produtos, secretaria, bibliotecas e uma série de outros
benefícios por meio de instituições de ensino e pesquisa, órgãos
governamentais e iniciativas privadas.
Fonte: http://portalamazonia.com/cultura/incubadora-de-parintins-aposta-em-artesanato-e-tradicao-como-diferencial