Representantes do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e da Amazônia International Rivers criticaram a forma como o governo tem conduzido os projetos de implementação de usinas hidrelétricas no rio Tapajós.
Em audiência que acontece na tarde desta terça-feira na Câmara dos Deputados, a assessora do Inesc, Alessandra Cardoso, alertou que o governo tem tratado a questão por meio de medidas provisórias e reduzindo áreas de florestas protegidas para viabilizar a construção de um complexo de obras, sem discussão com a sociedade. A assessora do Inesc lembrou que ainda há questões indígenas que não foram resolvidas na região.
Segundo Marcelo Marcelino de Oliveira, diretor de pesquisa, avaliação e monitoramento do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), a viabilidade de construção da usina de São Luiz do Tapajós, prevista para ser a quarta maior usina do Brasil, dependeu de um corte de 41 mil hectares do Parque Nacional da Amazônia. Oliveira disse, no entanto, que 158 mil hectares foram reduzidos em todas as unidades de conservação, mas que outros 185 mil hectares foram adicionados. 'Houve, portanto, adição de 26 mil hectares em unidades de conservação', comentou.
O representante do ICMBio disse ainda que continua em discussão a aprovação de nova unidade de conservação no Estado do Amazonas, a unidade de Maués. 'Faço aqui um apelo, porque ainda precisamos convencer o Estado do Amazonas para criar a área de conservação de Maués, que somaria 700 mil hectares.'
Apesar de aumentar a área total protegida, os ambientalistas alertam que nada se compara à riqueza ambiental que ficará embaixo d'água. Foram acrescidas, dizem os especialistas, regiões de pouca complexidade ambiental, em detrimento de uma região absolutamente intocada da Amazônia.
A usina de São Luiz do Tapajós, que teria potência inferior apenas a Itaipu, Belo Monte e Tucuruí, produziria 6.133 megawatts (MW) de energia a partir da construção de uma muralha de 3.483 metros de comprimento atravessada no coração da Amazônia. Para viabilizar os estudos de São Luiz e de Jatobá, a presidente Dilma Rousseff publicou em janeiro medida provisória (convertida em lei em junho) reduzindo as unidades de conservação nas áreas que serão atingidas pelas obras. A MP foi contestada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que avalia a constitucionalidade da medida.
Fonte: Em Tempo Real