Problemas estão sendo investigados por secretaria para povos indígenas.Segundo coordenadora, fiscalização frágil nas fronteiras colabora.
A presença de bebidas alcoólicas em terras indígenas do Amazonas tem deixado espaço para a ocorrência de crimes como violência doméstica, homicídio e envolvimento com narcotráfico, de acordo com a coordenadora de pesquisa da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), Chris Lopes. O acesso às aldeias é facilitado, principalmente, em cidades fronteiriças onde há fragilidade na fiscalização.
"Os índios chegam até a cometer suicídio e outros crimes que vão parar na polícia. Trata-se de um problema que vai afetando a comunidade já que ninguém compra cachaça para tomar sozinho em casa. Nesses casos, os índios ficam sujeitos a várias ocorrências", afirmou Chris Lopes.
Os municípios de Tabatinga, Benjamin Constant e São Gabriel da Cachoeira são algumas das cidades situadas na fronteira internacional e, segundo a pesquisadora, exigem uma fiscalização maior. Nas comunidades ribeirinhas, o acesso a bebidas também acontece, mas nas cidades ocorrem mais facilmente, deixando vulneráveis as comunidades indígenas.
"Há um monitoramento de vários órgãos, mas a situação é bem difícil ainda, já que 30% do território amazonense possui tribos indígenas. Muitas instituições têm déficit no quadro de funcionários ou de equipamentos e isso reflete na fiscalização", disse Chris Lopes.
Segundo a pesquisadora, não há distinção entre as bebidas consumidas por indígenas, sendo as mais adquiridas a cerveja, cachaça e, emalguns casaos, o álcool etílico e a gasolina. Porém, a preferida é a cachaça que tem o custo mais baixo, é mais fácil de armazenar e não há necessidade de refrigerar, segundo Chris.
Há ainda o caxiri, bebida fermentada à base de mandioca. "No entanto, o caxiri tem um nível muito menor de embebedamento. Essa cultura de dar bebida alcoólica é resultado da colonização que perdura até hoje", acrescentou.
Chris Lopes coordena, através da Seind, um estudo de levantamento da incidência do alcoolismo em indígenas. A pesquisa iniciou há pouco mais de um ano e já foi aplicada em Benjamin Constant, Maués e iniciada em Atalaia do Norte. Os dados ainda são preliminares, mas já se verifica a comercialização da bebida de diferentes maneiras.
"Buscamos mostrar quais os mecanismos e os riscos da entrada ilegal do álcool nas terras indígenas, mas o comércio dessas bebidas depende de várias situações. A nossa ideia é ouvir os índios e traçar planos de atenção especial às comunidades para que entendam que possuem uma doença", explicou a pesquisadora.
A discriminação para com os indígenas por parte dos profissionais de saúde também estão relacionados com a precaução ao alcoolismo. " É necessário que a metodologia que os médicos utilizam realmente ofereça o tratamento e assistência que os pacientes necessitam quando se fala em alcoolismo. Poucos enfatizam os problemas do álcool", salientou a pesquisadora.
Alcoolismo em Atalaia do Norte
O município de Atalaia do Norte, 1.138 km de Manaus, é o terceiro a ser estudado pela Seind. A parceria com instituições municipais, como a Fundação Nacional do Índio (Funai) local, visa levantar a frente de combate à disseminação da doença.
Em geral, os índios recebem os primeiros atendimentos na Casa de Saúde do Índio (Casai) de Atalaia do Norte, mas a bebida é uma característica vivida indiscriminadamente nas aldeias da cidade.
Segundo o coordenador regional da Funai do município, Bruno Pereira, o envolvimento de índios com bebidas alcoólicas atinge os povos residentes na região Juruá, Purus além dos índios do Javari.
"O álcool produz uma dependência muita alta entre os índios e trata-se de um tema delicado. Em geral, as tribos mais próximas de Atalaia tem mais acesso a bebidas, mas as aldeias mais distantes conseguem também. Fazemos algumas barreiras para tentar impedir, mas é difícil", explicou Bruno Pereira.