Em 5 anos, interior do Estado pode entrar em colapso por falta de médicos


Hoje são 280 profissionais nos municípios amazonenses. Para suprir a demanda, o ideal seriam 500. Especialidades com os maiores déficit são obstetrícia, cardiologia e cirurgia.
Falta de médico, que já é um problema na capital, acentua-se nos municípios do interior do Estado, onde apenas 280 profissionais estão trabalhando atualmente. Foto: Divulgação/Simeam
Manaus - Em cinco anos, o interior do Amazonas pode sofrer uma desassistência na área de saúde por falta de médicos,  é o que afirmou o chefe do Departamento de Fiscalização do Conselho Regional de Medicina (CRM/AM), Antônio de Pádua Quirino Ramalho. “Se continuar do jeito que está, haverá um colapso de assistência de saúde no interior do Amazonas por falta de médico”, disse.
Atualmente, são 280 médicos no interior, contratados pela Secretaria de Estado da Saúde (Susam). Número insuficiente, segundo o secretário adjunto das Ações de Saúde do Interior da Susam, Evandro Melo. “Para ter uma cobertura razoável, o Amazonas precisaria de 500 médicos. Só na rede da Susam, o déficit é de 168 médicos para atender os hospitais do interior e 300 para trabalhar na atenção básica de saúde nos municípios”, afirmou.
Desde 2005, quando houve o último concurso da Susam, o Estado já perdeu 160 médicos do interior seja por morte, aposentadoria ou que pediram para sair.   “Há um estudo no Ministério da Saúde (MS) que diz que se considerarmos o número de vagas de Medicina e o número de faculdades de Medicina, só para atender a demanda de hoje o déficits seria suprido apenas em 2030”, disse, acrescentando que esse problema não é exclusivo do Amazonas e, sim, nacional.
As especialidades com os maiores déficit são obstetrícia, cirurgia, ortopedia e cardiologia.
Para o presidente do CRM/AM,  o Amazonas é o Estado que apresenta maior injustiça na distribuição de médicos. “O CRM tem 7.326 médicos inscritos. Destes, 4.036 estão em atividade profissional, 3.620 na capital e apenas 252 no interior. Ou seja, apenas 10% dos médicos estão no interior”, disse.
Segundo Evandro, os salários pagos pela Susam variam de acordo com a distância do município, com piso de R$ 5,9 mil, chegando até R$ 13,4 mil. “Quanto mais distante, maior o salário. O médico especialista começa com R$ 6.620 para 20 horas e R$ 19,3 mil para 40 horas no município mais distante, fora outros contratos (prefeitura e União)”, explicou.
Motivos
De acordo com  Evandro Melo, são vários motivos que fazem o médico não permanecer no interior. “Dos médicos recém-formados que vão para o interior, cerca de 30% destes retornam para Manaus dentro de um a dois anos. Eles vão para conseguir recursos financeiros, a fim de fazer uma especialidade ou residência. À medida em que eles conseguem, eles voltam para a capital”, disse.
Segundo ele, os contratos dos outros empregadores, prefeituras e União, são precários, duram apenas um ano. “E isso aumenta a rotatividade no interior. Os médicos da Susam ficam bastante tempo. Há uma diferença salarial, que eles perdem quando voltam para Manaus”, ressaltou Melo.
Para  Ramalho, esse rodízio poderia ser evitado se tivesse uma política de Estado. “O problema de fixar o médico no interior é devido à falta de políticas no Estado que estabeleçam uma carreira com planos de cargos e salários”, afirmou.
Segundo ele, o médico do interior deveria ter uma carreira parecida com a do promotor e o juiz do interior, que com o tempo de serviço e mérito é deslocado para um município mais próximo da capital. “Além disso, o médico não tem autonomia no seu local de trabalho, ficando sujeito às ordens dos prefeitos. Se ele começa a reclamar da estrutura do hospital do interior, ele é perseguido, demitido ou aliciado. O médico não tem autonomia para trabalhar”, disse.
Ramalho afirmou, ainda, que o médico provoca despesa e demanda de custos. “Um médico dentro de uma unidade hospitalar ou um posto irá começar a pedir material de limpeza, equipes de saúde, alimentação para os pacientes. Enfim, eleva o consumo dentro da assistência de saúde. Por isso, a ausência desse profissional no interior favorece o desvio de dinheiro público”, observou.
Capital
Evandro Melo reconhece que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, segundo a Constituição Federal, e afirmou que existe uma dificuldade de ampliar a oferta de serviço por falta de médico.
“Aqui em Manaus, temos um déficit para complementar a equipe de Saúde da Família, o ideal é que a população tivesse a cobertura de 70%, hoje são só 30%. Ainda têm áreas da cidade que não apresentam Unidades de Saúde da Família (USF)”, disse. 
Fonte: D24am