Exploração de jazidas de cassiterita, nióbio, bauxita, urânio, caulim, ouro e ferro carece de cuidados ambientais e investimentos em estrutura. O volume equivale a cem vezes o PIB.
Manaus - As jazidas minerais provadas de cassiterita, nióbio, bauxita, urânio, caulim, ouro e ferro no Amazonas valem cerca de US$ 2,4 trilhões (R$ 4,3 trilhões), com base na cotação feita pelo Instituto Brasileiro de Mineração, a preços correntes de 2008. O volume equivale a cem vezes o Produto Interno Bruto (PIB) de 2009 ou a soma de riquezas geradas no Estado, que somaram R$ 41,7 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No levantamento não estão incluídas as reservas de gás e óleo, uma das maiores fontes de riquezas atuais.
O mercado internacional está aquecido à procura de investimentos em bens minerais, principalmente, ferro, alumínio, nióbio, tântalo, terras raras e minerais radioativos, afirma o geólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
“A mineração é uma das grandes responsáveis pela vinda de recursos estrangeiros ao País, voltados para a pesquisa dessas matérias-primas”, destaca.
As reservas atestadas pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) de nióbio em Morro de Seis Lagos, em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros a noroeste de Manaus), por exemplo, dariam para atender à demanda mundial por 400 anos, segundo estimativa do geólogo e secretário de Estado de Mineração, Geodiversidade e Recursos Hídricos, Daniel Nava.
As reservas de nióbio apresentaram o maior valor de riquezas, ao totalizarem US$ 1,8 trilhão, com cerca de 82 milhões de toneladas distribuídas pela mina do Pitinga, em Presidente Figueiredo (a 117 quilômetros ao norte de Manaus) e na jazida de São Gabriel da Cachoeira. A jazida é o depósito mineral inexplorado e passa a ser mina a partir da extração.
A maior parte da produção do nióbio (80%) destina-se ao preparo de ligas com o ferro utilizadas em pontes, dutos, locomotivas, entre outros, por causa da elasticidade e da alta resistência a choques.
Eldorado
O Amazonas possui cerca de seis garimpos, duas minas e uma jazida de ouro. Os garimpos não possuem as reservas quantificadas. A reserva estimada em 25,32 toneladas corresponde às duas minas localizadas em Humaitá e Manicoré (no Rio Madeira, a sudoeste) em Apuí (a 453 quilômetros ao sul de Manaus), no Garimpo do Gavião, e à jazida em Maués (a 276 quilômetros a leste), no Garimpo do Abacaxis.
Para uma jazida de ouro ser considerada de classe mundial, ou seja, de grande importância, ela deve ter uma reserva de cem toneladas.
As empresas estão migrando para essa região para encontrar uma mina que possa ser de classe mundial, que produza durante a vida útil cem toneladas de ouro, informa Nava. Nos garimpos, as riquezas são exploradas a céu aberto, enquanto na mina, há necessidade de máquinas para extrair o minério da rocha.
“Esse ouro que atualmente é explorado desde a década de 60, não é o ouro da rocha, mas o que vem erodido, que o rio leva. A mina está nessa região do Amazonas, em Maués e vai até o Pará”, explica o geólogo.
As principais reservas quantificadas de ouro, segundo Nava, estão no Alto Rio Negro, no noroeste e em toda a parte norte do Estado, nas terras habitadas pelos Yanomâmi.
A secretaria detectou 124 ocorrências de depósitos de ouro em áreas de preservação indígena no Alto Rio Negro. As reservas dimensionadas do Amazonas valem uma estimativa atual de US$ 1,4 bilhão, com o preço do ouro a aproximadamente US$ 55 o grama (g), segundo a Bolsa de Valores Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&F Bovespa). Apenas uma jazida e duas minas foram quantificadas pelo DNPM.
Dos seis garimpos de ouro do Amazonas, três estão paralisados: Serra do Acará, em Barcelos (a 399 quilômetros a noroeste de Manaus), Cordilheira Traíras e rio Puruí, em Japurá (a 744 quilômetros a noroeste) e Vila do Sucunduri, em Apuí (a 453 quilômetros ao sul).
Os outros três continuam em operação: Serra da Neblina, em Santa Isabel do Rio Negro (a 630 quilômetros a noroeste de Manaus) e São Gabriel da Cachoeira, além da Serra Tunuí/Caparro, também em São Gabriel e o do Rio Juma, em Novo Aripuanã e Apuí, no sul. O garimpo do Gavião (em Apuí e Manicoré) está paralisado enquanto o do rio Madeira (Humaitá e Manicoré) ainda está em operação.
Fertilizantes
As reservas de potássio das jazidas de Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros a sudeste) e Itacoatiara (a 176 quilômetros a leste) somam 1,15 bilhão de toneladas, o que equivale a um volume de US$ 587,8 bilhões, com o preço de mercado a US$ 510 por toneladas, segundo relatório de 2008 do Ibram.
O minério é um dos principais insumos para fertilizantes.
O Brasil é o nono maior produtor de potássio, com produção aproximada de 383 mil toneladas, em 2008. Por ser o maior consumidor desse minério, o País importa 91% da demanda. O Canadá é líder em produção, com 11 milhões de toneladas, seguido pela Rússia.
No País só há uma mina explorada, em Sergipe, pela Vale Fertilizantes, que anunciou investimentos de US$ 1,5 bilhão em dois anos, com produção inicial estimada em 1,2 milhão de toneladas anuais.
Indústria do papel
O caulim, matéria-prima da indústria de papel, tem reservas em Manaus e Rio Preto da Eva (a 57 quilômetros a nordeste da capital) que totalizam 3,4 bilhões de toneladas. À cotação de US$ 129,5 a tonelada, a preços de 2008, as jazidas têm valor estimado em US$ 441 bilhões.
Segundo o Ibram, o Brasil é o sexto maior produtor de caulim, com aproximadamente 2,8 milhões de toneladas em 2008, cerca de 6% da produção mundial, que é de 44,7 milhões de toneladas, aproximadamente. Os Estados Unidos são os maiores produtores globais.
Pitinga
A reserva de cassiterita (minério de estanho) do Amazonas, localizada na mina do Pitinga, em Presidente Figueiredo, foi estimada em 486 mil toneladas. Com o preço de mercado em US$ 17 mil (por tonelada), definido pela London Metal Exchange (LME) em 2008, essa reserva vale cerca de US$ 8,26 bilhões.
O estanho é um dos mais antigos metais conhecidos (Era do Bronze) pois é um dos componentes do bronze. O metal é utilizado na produção de diversas outras ligas metálicas e ainda em embalagens, como latas e envolturas.
O Brasil possui a quinta maior reserva de estanho do mundo, cerca de 11% do total. As reservas estão localizadas na região Amazônica: Província Mineral do Mapuera, no Amazonas (mina do Pitinga), e na Província Estanífera de Rondônia (Bom Futuro, Santa Bárbara, Massangana e Cachoeirinha).
Pitinga tem uma importância direta na produção brasileira, principalmente em relação ao estanho. Em 2012, deve voltar a ser responsável por 70% da produção nacional, alcançada em 2008”, afirma Nava.
A mina saiu do controle da mineradora Taboca, do grupo Paranapanema e foi adquirida pela mineradora peruana Minsur com investimentos de R$ 1,25 bilhão, até agora.
Nuclear
A mina do Pitinga também possui reservas de urânio que totalizam 144 mil toneladas o que equivale a US$ 14,9 bilhões, com preço de mercado em US$ 47 /lb (por pound), segundo o Ibram em 2008.
Os maiores consumidores de urânio são as usinas nucleares. O mineral nuclear é usado para alimentar os reatores na geração de energia elétrica, que já respondem por 18% da energia elétrica do mundo.
Alumínio
A bauxita, principal minério utilizado na fabricação de alumínio, possui jazidas em Presidente Figueiredo, Urucará e Nhamundá, somadas elas possuem uma reserva estimada de 151,8 milhões de toneladas o que corresponde a US$ 5,31 bilhões, sendo o preço de mercado estabelecido em US$ 35 a tonelada, segundo Ibram.
O Brasil é o terceiro maior produtor de minério de bauxita, com produção, em 2008, de 26,6 milhões de toneladas, o que significa 13% da produção mundial, que foi de 205 milhões de toneladas.
O mercado consumidor do minério é formado por, principalmente, refinarias de alumina, insumo base para a produção de alumínio. Para cada 4 toneladas de bauxita, são geradas duas de alumina e uma de alumínio.
Legislação ambiental exige cuidados na Amazônia
O respeito à exigente legislação ambiental para evitar danos no delicado ecossistema da Amazônia é uma das principais preocupações do setor. “Um projeto de mineração demanda muito tempo para começar a produzir, de três a seis anos em ambientes amazônicos”, explica o geólogo Gert Woeltje.
Atividade de grande impacto ao meio ambiente, a indústria da mineração tenta mudar essa característica. “O setor precisa agir em conjunto para melhorar os aspectos de sustentabilidade. Nem todos agiram com responsabilidade social e ambiental no passado”, admitiu a presidente executiva da gigante Anglo American, Cynthia Carrol, no 14ª Congresso Brasileiro de Mineração, no final de setembro. “Não se pode deixar que os poucos responsáveis manchem o que fazem os muitos responsáveis, disse a executiva.
Fonte: D24am