Município do Amazonas vive dia de protestos

Em Boa Vista dos Ramos, o salário dos funcionários públicos municipais estaria em atraso e o sistema de saúde atendendo com precariedade.

 

 Uma população assustada, com medo e indignada. A revolta dos moradores do município de Boa Vista dos Ramos - localizada a 270 quilômetros de Manaus -, se dá em virtude dos salários atrasados dos funcionários do município e a precariedade no atendimento do sistema de saúde, que encontra-se à beira da falência.
A cidade não tem médicos e o único profissional que presta assistência é suspeito de não possuir o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM).
Nesta quinta-feira (14), mãe e filha morreram durante o trabalho de parto no hospital da cidade.
Os familiares das vítimas reclamam de negligência médica, algo que já está se tornando rotineiro nas unidades de saúde de Boa Vista do Ramos.
Por conta do caos, nesta quinta-feira (14), foi registrado mais um dia de manifestação nas ruas da cidade.

“Minha mulher entrou para ter o bebê andando, bem de saúde e saiu morta. Ainda tentamos levá-la para o hospital de Maués, mas já era tarde”, desabafou o autônomo Marcos Pereira, 28, companheiro da dona de casa Elba, que após dar entrada no hospital Clóvis Negreiros, localizado no Centro, por volta de 1h, faleceu durante o trabalho de parto.

“Fizemos o que foi possível para salvar a paciente e o bebê. Ela teve três paradas cardíacas, mas nós, enfermeiros e auxiliares, temos um limite. Acho que o médico demorou para atendê-la”, afirmou a auxiliar de enfermagem Maria da Conceição Gomes.
Na última quarta-feira (13), uma criança já havia morrido também durante um trabalho de parto. A mãe, Eliane de Oliveira, continua internada no hospital.

O secretário municipal de Saúde, Sandro Soares, tratou o caso como um acontecimento em que os profissionais não tinham mais o que fazer.
“Foi uma fatalidade. No caso da outra criança, ela já chegou morta na barriga da mãe”, afirmou.

Sandro disse que a Secretaria Estadual de Saúde (Susam) contratou três médicos que dão expediente quinzenal em Boa Vista dos Ramos, mas os próprios auxiliares de saúde dizem que eles não passam mais que uma semana atendendo a população.
O médico Francisco José não quis falar com a reportagem de A CRÍTICA. Ele disse que teria urgência para atender um paciente.

Contratado pela prefeitura, o médico não dá plantão no hospital. Ele fica de sobreaviso em casa.
No receituário dos pacientes, o carimbo com a assinatura dele não consta o registro do CRM. O número descrito é o 117927, acompanhado da palavra obstetrícia. Bem diferente dos registros oficiais da entidade.

Protestos e demissões

A última manifestação dos moradores nas ruas mandou 32 funcionários da prefeitura para casa. A maioria deles foi aprovada em concurso público, mas foram exonerados por estarem na passeata contra o prefeito Elmir Lima Mota (PSC), o “Elmir Freedon”.
“Não pagaram nossos salários de junho e ainda nos afastaram sem justa causa”, disse a funcionária Kedma Rodrigues Alves.

O prefeito, que estava em Manaus, de acordo com a assessoria de imprensa, tinha a previsão de retornar ainda nesta quinta-feira (14), a cidade.
À noite, a reportagem tentou entrar em contato com ele, pelo telefone celular, mas as chamadas caiam na caixa postal.

Nesta quinta-feira, o governador Omaz Aziz deveria visitar Boa Vista do Ramos para entregar notebooks aos professores, mas a viagem dele foi cancelada.
Ainda nesta quinta-feira o município recebeu um reforço policial.

Denúncias

Os vereadores Júnior Andrade (PT) e Rosa Aguiar (PTB) afirmam que os repasses dos recursos da saúde provenientes do Governo Federal diminuíram de R$ 936 mil, em 2009, para R$ 200 mil, em 2011, porque a prefeitura não prestou contas.
 “Já fizemos várias denuncias de falta de pagamentos dos professores, falta de médicos e recursos mal aplicados”, acentuou Andrade. 

Fonte: Acritica